Seria de se esperar que eliminando a doença resgatamos a saúde. Mas tal não tem vindo a acontecer. É preciso alterar o que está a causar a doença, perceber verdadeiramente as suas causas. Doenças cronicas não transmissíveis estão infinitamente ligadas a hábitos alimentares e estilos de vida e, quando começamos a estudar mais profundamente há um órgão que sobressai: o intestino.
O nosso corpo possui, em média, 10 microorganismos para cada célula humana, e esses microorganismos possuem cerca de 180 vezes mais genes. O intestino hospeda em média 70% desta comunidade que consome cerca de 10% da nossa alimentação para poder exercer as suas funções. De forma muito simplificada hoje sabe-se que não há boas e más bactérias, o importante é que tenhamos várias especeis diferentes e cada espécie dentro de determinadas percentagens. Continuando com explicações simplificadas, imaginemos que cada espécie gosta mais de X alimento, numa dieta variada e saudável, todas essas bactérias terão acesso a alimentos que as fazem continuar a existir. Mas numa dieta pouco variada, com excesso de determinado grupo alimentar, o que acontece é que as bactérias que gostam mais desse determinado alimento, começam a crescer e a ficar em superpopulação e outros grupos de bactérias começa a desaparecer. Criando assim um cenário desfavorável de desequilíbrio do microbioma.
Já vimos então que a alimentação pode ser um fator de desequilíbrio, mas não é o único: stress, idade, hormonas, sedentarismo, cargas patogénicas, má gestão emocional, distúrbios do sono, alguns medicamentos, laxantes e antibióticos, alterações do ritmo circadiano… têm também um grande impacto para o desequilíbrio do microbioma = Disbiose.
- Doenças inflamatórias intestinais:
– Colite ulcerativa;
– Doença de Crohn;
– Doença diverticular;
– Síndrome do intestino irritável (SII);
- Doenças autoimunes: podem tem relação com a microbiota intestinal; – Doenças de pele (dermatite atópica; psoríase)
- Doença celíaca;
- Asma;
- Diabetes;
De forma geral (mais uma vez, porque o ecossistema intestinal na saúde e na doença tem assunto para dezenas de livros):
- Alimentos que devemos evitar e/ou reduzir para equilibrar a microbiota intestinal:
– Leite de vaca;
– Glúten;
– Farinhas refinadas, açúcar e adoçantes sintéticos;
– Aditivo E-407;
– Carnes e pré-embalados;
– Óleos vegetais;
– Pesticidas e herbicidas. Optar sempre que possível por frutas e vegetais Bio;
- No caso de Síndrome do Intestino Irritável (SII) é recomendado fazer o protocolo Low Fodmap (deixo-vos o protocolo num artigo diferente).
Para além da alimentação, muitas das vezes é necessário fazer um plano de equilíbrio da microbiota que envolve também a necessidade de suplementação especifica e utilização de métodos de limpeza intestinal, como enemas, hidrocolon com ozonoterapia, utilização de antiparasitários e antifúngicos naturais.
Após esta fase, em que o organismo já está preparado para receber os seus bons habitantes, começamos a fase de reparação com uma dieta adequada (em alguns pacientes poderá ser necessário a realização de teste de intolerância alimentar), suplementação, probióticos, jejum noturno de pelo menos 12 horas e bons hábitos de estilo de vida.
- Alimentos que promovem um microbioma saudável:
– Legumes, frutas, verduras, frutos secos oleaginosos, alimentos ricos em amido resistente, cereais integrais, leguminosas, peixe gordos e fermentados (kimchi, kefir, kombucha…).
Papéis fundamentais do intestino:
– Absorção de nutrientes;
– Produção de substâncias (neurotransmissores, vitaminas);
– Participa na digestão de nutrientes, como a hidrólise de lípidos não absorvidos;
– É responsável por cerca de 20% dos processos de detox;
– Defesa imunitária:
– Equilíbrio emocional (eixo intestino-cérebro),
Nota: para ter um intestino saudável é necessário que o resto do sistema digestivo esteja também equilibrado. A nossa saúde começa na boca. É necessário que o estomago esteja a trabalhar a “todo o gás” para que os alimentos cheguem devidamente ao intestino… mas vamos por etapas sim? Fica para um próximo artigo. Espero que vos tenha ajudado a compreender melhor este mundo do intestino, até ao próximo.
Dra. Sónia Dias