Mulher, quero começar este artigo por dizer-te que, ter dores durante a menstruação, sintomas incapacitantes de TPM, dor durante as relações sexuais: Não é Normal!!

A saúde da mulher, ciclos regulares e sem dor, está muito interligada ao seu estado emocional. Pratica o autoconhecimento, meditação, intuição, regula o teu ciclo circadiano, nutre-te e evita disruptores hormonais (BPA, alumínio, perfumes, tabagismo, poluição, absorventes descartáveis comuns…);

Em consultório, tenho acompanhado várias pacientes diagnosticadas com síndrome dos ovários poliquísticos (SOP), algumas delas mal diagnosticadas, então gostaria de deixar-vos alguma informação que acredito ser útil para a construção de um pensamento critico e informado.

 

  • Síndrome dos ovários poliquísticos (SOP)

Causa multifatorial: fator genético (irmãs ou filhas de portadoras têm 50% de hipótese de desenvolver) e fator ambiental (obesidade, sedentarismo, resistência à insulina, consumo de álcool…).

Círculo vicioso: aumento de andrógenos (testosterona) e insulina intra-uterino, alteração do GnRH, aumento LH, diminuição de FSH; aumento de andrógenos.

Atinge: 5 a 10% de mulheres, no entanto é comum verificar-se um número superior em consultas, o que derivada muito possivelmente de um mau diagnostico.

Mulheres com SOP apresentam:

– 95% de ciclo irregulares;

– 80% hiperandrogenismo (quantificar com escala de Ferrimam Gallwey);

– 70% acne;

– 50-70% aumento da insulina;

– 30 a 75% obesidade;

– 30 a 40% infertilidade;

 

Repercussões graves a longo prazo:

– Diabetes mellitus tipo II;

– Síndrome metabólica;

– Risco cardiovascular;

– Hiperplasia endometrial;

– Diabetes gestacional;

– Depressão;

– Apneia do sono;

 

Menstruação Irregular:

– Se a mulher já menstrua há 3 anos, uma menstruação regular é entre 21 dias a 35 dias;

– Irregular: menos de 8 ciclos por ano.

 

Diagnóstico

Critérios de diagnostico (2 de 3)

  • Irregularidade menstrual;
  • Hiperandroginismo (clínico ou laboratorial)
  • Ultrassom USG > 20 folículos 2-9mm e/ou volume > 10mL (sem corpo lúteo, quistos ou folículos dominantes >=10mm)

Importante excluir outras causas como: alterações da tiroide, hiperprolactinemia, menopausa precoce e policistose ovariana (que são apenas folículos antigos que não amadureceram);

 

Quando avaliar?

– 3 meses sem uso de hormonas (pilula, injeção, implante, DIU hormonal);

– Exames no início do ciclo (até ao 5 dia);

 

Tratamento convencional:

– O primeiro tratamento é alimentação e atividade física, não estando recomendado como 1 tratamento a pilula, porem não é isso que se tem vindo a verificar nos consultórios.

– Na bula/ folheto informativo da pilula não vem lá escrito tratamento para SOP certo?

– O que é mais preocupante é que os efeitos secundários da pílula vão exacerbar as complicações graves a longo prazo da SOP.

– Isso significa que a pilula nunca deverá ser utilizada? Não é isso que estou a dizer. Estou sim a dizer que o primeiro tratamento deverá sempre passar por mudança de hábitos alimentares e estilo de vida. Pois não existe um tratamento universal para a SOP em nenhum manual ou artigo. O tratamento deverá ser orientado a partir dos sintomas (excesso de peso, resistência à insulina, aumento de hormônios androgênicos – que aumentam acne, pêlos e podem causar hiperplasia adrenal) e cada mulher pode manifestar os sintomas de maneira diferente.

Primeiro tratamento:

– A mudança do estilo de vida é fundamental.

– Nutrição adequada, individualizada, anti-inflamatória, com redução de leite, farinhas refinadas e açúcar.

– Controle glicêmico das refeições.

– Tratar disbiose intestinal na SOP.

 

Suplementação (sempre com o auxílio de um nutricionista ou profissional de saúde e/ou equipa multidisciplinar):

– Cromo;

– Omega 3;

– Vimanina D3;

– Probioticos;

– Melatonina;

– Coenzima q10;

– Curcuma;

 

Fitoterápicos:

– Curcuma longa- anti-inflamatória;

– Dente de leão – anti-inflamatório;

– Chá verde: ajuda em diversos processos da síndrome metabólica;

– Urtiga Dioica (raiz da planta): anti queda de cabelo e antiandrogênica;

 

Fito hormonas (plantas com substâncias que se ligam aos recetores hormonais de estrogénio e progesterona):

– Angelica/ Dong Quai: ótima para irregularidade menstrual, endometriose, amenorreia, cólicas e sintomas pré-menstruais;

– Vitex – usada para TPM, dismenorreia, ciclos menstruais curtos por deficiência de progesterona….

– Prímula (óleo da semente) – TPM, climatério;

– Maca (raiz) – TPM

 

Não esquecendo de hábitos de estio de vida saudáveis;

– Beber 2L de água/dia;

– Atividade física;

– Sono adequado;

– Controlar stress e ansiedade;

  • Endometriose:

“A endometriose é uma condição caracterizada pela presença de glândulas endometriais e estroma fora da cavidade uterina, como peritónio, ovário e intestino.” Afeta de 6 a 10% das mulheres em idade reprodutiva.

Principais sintomas são: infertilidade e dor pélvica.

A cada ciclo menstrual aumentamos a espessura do endométrio (camada que reveste o útero) para receber o suposto feto. Quando não há implantação, ocorre a descamação do endométrio, ou seja, a menstruação.

Na endometriose, a principal teoria é que ocorre a menstruação retrógrada que consiste na presença de sangue menstrual na cavidade abdominal, devido ao refluxo através das trompas de Falópio. Então esses pedaços de útero (que chamamos de estroma e glândulas endometriais) se abrigam fora da cavidade uterina, o que resulta numa reação imunológica e inflamatória crônica. Então na endometriose o tecido que normalmente cresce dentro do útero cresce fora dele.

Assim como o revestimento do útero engrossa e sangra todos os meses durante a menstruação, o mesmo ocorre com o tecido que se forma fora do útero. Mas como o sangramento ocorre em áreas onde não consegue sair facilmente do corpo, isso gera uma cascata imunológica e inflamatória que causa muita dor, cólicas intensas, infertilidade, problemas intestinais, entre outros.

 

Principais fatores de influência:

– Disruptores endócrinos, aspetos imunológicos, estresse oxidativo e genética;

 

Alimentos que exacerbam a endometriose/ alimentos pro inflamatórios:

– Carnes, embutidos e produtos de charcutaria;

– Manteiga, margarinas e óleos vegetais refinados;

– Leite de vaca e derivados;

– Alimentos industrializados, altamente refinados;

– Alimentos com elevada carga de em pesticidas e inseticidas.

 

É necessário controlar o processo inflamatório através da alimentação e suplementação individualizada:

– Alimentos ricos em polifenóis: cacau cru em pó, romã, morangos biológicos, cebola, chá verde, amêndoas, nozes, mirtilos, maçã, cenoura;

– Repolho, couve roxa, couve frisada/kale, couve, brócolos, couve-de-bruxelas;

– Goiaba, laranja, uvas, kiwi, ananás, frutos vermelhos, pêssego;

– Curcuma, gengibre;

– Vitamina D3, ómega-3, resveratrol, chá verde, magnésio, NAC, zinco quelado, piridoxal-5-fosfato, vitex, dong quai, angelica;

A maioria das mulheres, alguma vez na vida, já fez uso hormonal. Não estou a invalidar a sua aplicação, mas quero repensar o seu uso. Será que todas as mulheres sabem todos possíveis efeitos adversos a que estão expostas? Será que antes de receitar o seu uso alguém as informou de outra possível forma de tratamento? Existe uma diferença entre eliminar os sintomas e tratar dos sintomas.

Nutricionista Sónia Dias.