Porque é que ouvimos cada vez mais falar em dietas sem glúten? Será que o trigo e outros cereais com glúten são assim tão prejudiciais para a saúde?

Talvez seja porque a prevalência da doença celíaca não diagnosticada aumentou 4 vezes nos últimos 50 anos e tendo em conta que 50 anos não é tempo suficiente para que os nossos genes se alterem quais são as possíveis justificações para esse aumento:

– Aumento do consumo de trigo;

– As mudanças que o trigo tem sofrido para o tornar mais rentável;

– As pessoas estão com o sistema imunitário e o microbiota intestinal mais comprometido (uso de antibióticos, poluição…);

Mas não é na doença celíaca que vou enfatizar. As desordens e/ou doenças relacionadas com o glúten podem ser de origem:

– Autoimune (doença celíaca, glúten ataxia, dermatite herpetiforme);

– Alérgica;

– Não autoimune não alérgica – sensibilidade ao glúten.

Portanto, será que apenas celíacos devem eliminar o glúten? Não.

Mesmo sem doença celíaca inúmeras pessoas têm sensibilidade ao glúten e manifestações negativas associados ao seu consumo. Manifestações essas que não passam apenas por sintomas gastrointestinais (diarreia, obstipação, gases, dores abdominais…), podendo existir manifestações múltiplas em diversos locais do corpo.

Manifestações associadas a uma reação negativa ao glúten:

– Dor abdominal:

– Eczema e/ou erupção;

– Dores de cabeça com frequência;

– Confusão mental;

– Diarreia;

– Depressão;

– Anemia;

– Dores articulares;

– Sensação de formigar nas pernas, braços e/ou dedos;

– Distúrbios de atenção;

– Hiperatividade;

– Perda de peso (não justificável);

– Eritema;

– Aftas crônicas;

– Distensão abdominal;

– Menstruação em baixo ou alto volume;

– Fissuras anais;

– Evacuação com sangue;

– Cistite intersticial;

– Olhos inchados ao acordar;

– Pelos encravados;

– Alterações do padrão de sono;

– Alterações de humor;

– Perda de equilíbrio;

– Ganho de peso;

– Obstipação;

– Síndrome do intestino irritável;

– Dor abdominal;

– Desordens pancreáticas;

– Linfoma;

– Neuropatia;

– Autismo;

– Esquizofrenia;

– Infertilidade;

– Doença inflamatória intestinal;

– Distúrbios musculares;

– Osteopenia e osteoporose.

Atenção! Não estou a referir que qualquer doença é 100% gerada pelo glúten, mas quando temos um destes sintomas listados (e não são poucos) temos que refletir se este paciente não terá alguma sensibilidade alimentar (glúten, lactose…) a provocar este problema ou a agravar o quadro.

É fundamental colocar algumas perguntas importantes para ajudar a detetar sensibilidade ao glúten (ou qualquer hipersensibilidade alimentar):

– Sofreste de alergia alimentar na infância?

– Tens obstipação crônica desde a infância?

– Sofreste de rinite alérgica, ou conjuntivite ou asma ou dermatite atópica?

– Eritema perianal na infância?

– O bebé, quando não aleitado, teve de trocar o leite de fórmula?

Desde o ano 2000 que vêm surgindo diversos estudos que comprovam os benefícios de uma dieta com exclusão glúten na melhoria das diversas manifestações listadas acima.

Na dieta sem glúten exclui-se:

– Trigo e alimentos que contenham trigo (pão, bolachas, cereais de pequeno-almoço, bolos, massas, seitan, molho de soja…);

– Espelta;

– Centeio;

– Cevada (cerveja).

Não contém glúten:

– Amaranto, araruta, arroz, batata, mandioca, quinoa, milho, castanhas, sorgo, teff, trigo-sarraceno, sementes, frutas e legumes, oleaginosas, entre outros.

Conclusão:

As pessoas saudáveis devem parar de comer glúten? Não.

O problema é que existem muitas questões associadas ao glúten, portanto devemos suspeitar sempre em qualquer doença e em qualquer paciente se o glúten está envolvido ou não.